Um operador experiente decide subir na empilhadeira para “dar uma olhadinha” numa peça no alto do estoque. Era para ser rápido. 

Um escorregão, uma queda, fratura. A cena, infelizmente, não é rara — e poderia ter sido evitada com uma atitude simples: respeitar o protocolo de segurança.

Em 2024, o Brasil registrou 724.228 acidentes de trabalho, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A maioria (74,3%) foi de acidentes típicos, ocorridos durante a jornada

Outros 24,6% aconteceram no trajeto casa-trabalho, e apenas 1% estão ligados a doenças ocupacionais — o que mostra o quanto ainda é difícil reconhecer formalmente problemas como perda auditiva ou doenças respiratórias.

Mais de 61% desses acidentes geraram afastamentos de até 15 dias. Isso representa máquinas paradas, entregas atrasadas, retrabalho, profissionais sobrecarregados e clima tenso nas equipes. 

Setores como construção civil, transporte, hospitais e indústria estão entre os mais afetados — e, por isso, precisam de ações práticas e urgentes.

Ainda assim, muita gente continua achando que segurança é “frescura”, exagero ou burocracia. Só que a conta chega: em produtividade, em processos trabalhistas e, principalmente, na saúde de quem faz a operação acontecer.

Neste artigo, você vai entender como a Segurança do Trabalho pode evitar problemas e fortalecer a cultura de segurança, destacando erros e acertos na gestão. Boa leitura!

Riscos reais no dia a dia

Nem todo acidente começa com uma situação extrema. Muitas vezes, ele nasce de um hábito “comum demais pra dar problema”. Veja alguns exemplos que parecem inofensivos — mas não são:

  • Um colaborador do setor de pintura trabalha sem protetor auricular porque diz que “é rapidinho”. Resultado: perda auditiva ao longo do tempo.
  • Na expedição, alguém sobe na empilhadeira com o motor ligado para verificar uma carga. Um susto, um movimento em falso, e o risco de queda é enorme.
  • Uma ferramenta com o cabo trincado continua sendo usada, “porque ainda dá pra quebrar o galho”. Um dia, quebra de vez — e causa um corte profundo.
  • No setor de montagem, por estar com pressa, uma colaboradora não coloca as luvas térmicas para mexer em uma peça aquecida. Queimadura leve… e um dia fora do trabalho.

Esses comportamentos são frequentes. E é justamente por parecerem pequenos que se tornam perigosos.

Problemas que a Segurança do Trabalho ajuda a evitar

Por isso, a Segurança do Trabalho é fundamental: um conjunto de práticas, normas e ações voltadas para preservar a integridade física e a saúde de quem trabalha.

Ela envolve desde o uso correto de EPIs até a análise de riscos e a padronização de processos, sempre com foco na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

Mais do que “cumprir norma”, a segurança do trabalho atua para evitar danos reais e recorrentes, como:

  • Acidentes graves, com afastamentos, fraturas ou perda de membros.
  • Exposição contínua a ruídos, poeiras, gases e produtos químicos.
  • Queimaduras, quedas, cortes, choques elétricos — que ocorrem por falhas simples de prevenção.
  • Falta de rastreabilidade, dificultando saber quem foi treinado, quando, com qual EPI.
  • Despadronização no uso dos EPIs e na execução das tarefas.
  • Multas, ações judiciais e interdições, que impactam diretamente a operação e o caixa da empresa.

Erros mais comuns no chão de fábrica

Isso acontece porque alguns comportamentos e falhas de processo viram rotina. E isso abre espaço para acidentes. Veja os mais comuns:

  • Sempre fiz assim e nunca aconteceu nada.” Até o dia em que acontece.
  • Falta de comunicação entre turnos sobre riscos ou ocorrências.
  • Uso de EPI vencido, danificado ou emprestado.
  • Riscos não mapeados corretamente no PGR ou mal classificados.
  • Etiquetas de segurança que caíram e não foram recolocadas.
  • Checklists ignorados ou preenchidos apenas para “cumprir tabela”.

Cada um desses pontos parece pequeno isoladamente. Mas, no conjunto, enfraquecem completamente o sistema de prevenção.

O que todo trabalhador deve saber (e cobrar)

Segurança não é responsabilidade só do setor. É do time inteiro. E todo profissional precisa saber (e cobrar):

  • Onde estão os EPIs e como pedir reposição quando necessário.
  • Quando e como fazer os treinamentos obrigatórios.
  • Onde acessar o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) e o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional).
  • Como reportar um incidente ou condição insegura.
  • Quem é o(a) responsável por segurança no seu turno ou setor.
  • Quais tipos de acidente precisam ser comunicados imediatamente.

Crie um mural, distribua panfletos e realize treinamentos para informá-los sobre seus direitos. Exemplo:

Ferramentas e tecnologias que ajudam

A boa notícia é que já existem recursos simples e acessíveis para reforçar a segurança no chão de fábrica:

  • Checklists digitais, que facilitam inspeções de rotina e sinalizam pendências.
  • Softwares de gestão de treinamentos e documentos, com histórico por colaborador.
  • Apps internos de comunicação, para alertas e notificações urgentes.
  • Etiquetas RFID nos EPIs, para rastrear uso, validade e responsável.
  • Plataformas de gamificação, que aumentam o engajamento em campanhas de segurança.

Essas ferramentas ajudam a criar rotina, rastrear responsabilidades e agir antes que o problema aconteça.

Como o ERP pode apoiar esse processo

Sistemas de gestão (ERPs) bem configurados são grandes aliados da segurança. Veja como os módulos podem ajudar:

  • Recursos Humanos – controla treinamentos, exames médicos, ASOs e vencimentos.
  • Manutenção – garante inspeções periódicas, liberações e sinalizações corretas em máquinas.
  • Suprimentos/Almoxarifado – faz rastreamento e controle de estoque de EPIs.
  • Qualidade – integra processos com as normas de segurança da empresa.
  • Comunicação Interna ou App do Colaborador – permite o envio rápido de alertas, atualizações e registro de incidentes.

Tudo isso contribui para transformar a segurança em parte natural da operação.

Reflexão para lideranças

Quando alguém se machuca, não é só a pessoa que sofre. É o sistema inteiro que falhou. E toda falha custa caro: em confiança, em clima, em produtividade.

Segurança só funciona quando vira cultura, não só obrigação. E quem lidera tem o papel de puxar essa transformação.

Empresas que valorizam a segurança conseguem:

  • Reter talentos — ninguém quer trabalhar onde se sente inseguro.
  • Fortalecer a imagem no mercado, como marca responsável.
  • Evoluir em práticas de ESG, cumprindo sua responsabilidade social e de governança.

Mais do que evitar multas, é sobre cuidar de quem faz a empresa acontecer. E isso, no fim das contas, é o que mais gera resultado.

Lembre-se que as decisões de hoje definem os resultados de amanhã. Veja como aplicar boas práticas de gestão industrial no nosso próximo artigo “Crie um chão de fábrica mais seguro com 5s e cultura de segurança”.