A economia circular é crucial para a sustentabilidade e eficiência nas indústrias. Diferente do modelo linear, que segue a sequência de extrair, produzir, consumir e descartar, ela propõe um ciclo contínuo de reutilização e reciclagem de recursos, reduzindo desperdícios e impactos ambientais.

No Brasil, 76,4% das indústrias adotam esse modelo, conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 

Entre essas práticas, 56,5% das empresas focam na otimização de processos para minimizar desperdícios, 37,1% utilizam insumos reciclados ou remanufaturados, e 24,1% participam da troca de resíduos entre empresas. 

Contudo, desafios como a bitributação do ICMS e a falta de infraestrutura adequada ainda dificultam a expansão dessas práticas.

Este artigo oferece um guia completo sobre economia circular, abordando seus princípios, benefícios e estratégias para implementação eficaz no setor industrial.

Economia circular: o que é

Sabe quando a gente fala em economia circular? É tipo um ciclo gigante em que tudo que a gente usa — desde materiais até produtos — é aproveitado ao máximo. 

Em vez de seguirmos aquele esquema tradicional de usar e jogar fora, a ideia aqui é fazer com que as coisas durem mais. 

É como se fosse um sistema onde nada é desperdiçado; tudo é reaproveitado de alguma forma. E olha só, não se trata só de reciclagem não, vai muito além! 

A gente precisa repensar os processos de produção, os produtos em si e até mesmo como os negócios funcionam, buscando usar os recursos da melhor maneira possível. 

Em resumo, é sobre usar menos matéria-prima, reutilizar o que já temos e fazer tudo funcionar de forma mais eficiente. 

O objetivo é simples: garantir que o que a gente usa seja sempre útil e valioso, contribuindo para um jeito mais sustentável de viver, preservando o meio ambiente e diminuindo os impactos que causamos nele.

Quando surgiu?

O conceito de economia circular não é exatamente novo, mas ganhou força e reconhecimento nas últimas décadas. Embora suas raízes possam ser rastreadas até práticas antigas de reaproveitamento e eficiência, o termo começou a ser usado de forma mais estruturada e formal nos anos 1970 e 1980.

Na década de 1970, o economista Kenneth Boulding introduziu a ideia de um “economia em circuito fechado” em seu ensaio "The Economics of the Coming Spaceship Earth", onde argumentou que os recursos deveriam ser reutilizados em um ciclo contínuo.

Nos anos 1980 e 1990, o conceito evoluiu com contribuições significativas de acadêmicos e profissionais como Walter Stahel, que introduziu o conceito de "economia de desempenho" e propôs estratégias para fechar os ciclos de recursos.

Mais recentemente, a Fundação Ellen MacArthur, criada em 2010, tem sido um dos principais impulsionadores da economia circular, promovendo pesquisas e colaborando com empresas, governos e outras organizações para adotar práticas circulares.

A partir daí, o conceito ganhou visibilidade global, sendo integrado em políticas públicas e estratégias corporativas ao redor do mundo.

Benefícios da economia circular para indústrias

Vamos examinar as vantagens desse modelo inovador, que proporciona benefícios econômicos, ambientais e sociais significativos. 

Primeiramente, do ponto de vista econômico, destaca-se a redução dos custos operacionais e a criação de novas oportunidades de negócios. 

Isso ocorre devido à otimização dos recursos e ao surgimento de modelos inovadores baseados na reutilização e recuperação de materiais.

Além disso, a economia circular contribui para a preservação do meio ambiente, diminuindo o impacto ambiental e conservando os recursos naturais. Ao reduzir a extração de recursos e promover a reutilização de materiais, ela minimiza a quantidade de resíduos enviados para aterros sanitários.

Outro aspecto importante são os impactos sociais positivos gerados pela adoção desse modelo. A geração de empregos verdes é uma dessas vantagens. 

Empregos verdes são aqueles que contribuem para a preservação ou restauração do meio ambiente, como trabalhos em energias renováveis, reciclagem, agricultura sustentável, entre outros. 

Isso não apenas impulsiona a economia, mas também promove o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas à sustentabilidade.

Ademais, as empresas que adotam práticas de economia circular fortalecem sua imagem corporativa, ganhando maior aceitação pelo consumidor.

A seguir, mostraremos a melhor forma de iniciar esse modelo na sua indústria.

Como implementar esse processo?

As indústrias têm um papel crucial na mudança para a economia circular, sendo responsáveis pela produção de grande parte dos resíduos. 

Para fazer essa transição, algumas estratégias são essenciais. São elas:

Abrace a logística reversa: esse modelo envolve não apenas os consumidores, mas também os intermediários e os fabricantes, compartilhando a responsabilidade pelo descarte apropriado de produtos. Desde eletrônicos até óleos lubrificantes, passando por pilhas e lâmpadas, a logística reversa é um mecanismo vital para garantir que os produtos alcancem o fim de sua vida útil de maneira segura e sustentável.

Crie um design sustentável: investir em design sustentável é uma estratégia essencial para as empresas que buscam promover a economia circular. Isso vai além de simplesmente criar produtos funcionais; envolve escolher cuidadosamente os materiais, considerar a eficiência energética e projetar para reutilização ou reciclagem. Ao priorizar o design sustentável, as empresas podem reduzir significativamente o impacto ambiental de seus produtos desde o estágio inicial de concepção.

Promova a educação ambiental: a conscientização e a educação ambiental são fundamentais para a adoção da economia circular. Internamente, as empresas podem oferecer programas educacionais para funcionários, garantindo que todos compreendam a importância da economia circular e estejam comprometidos com sua implementação. Além disso, estender esses esforços para a comunidade local ajuda a promover uma cultura de sustentabilidade mais ampla e envolver os cidadãos na transição para a economia circular.

Crie estratégias para engajar seu time: o sucesso na implementação da economia circular depende do engajamento de todas as partes interessadas, incluindo fornecedores, terceirizados e clientes. Estabelecer parcerias com organizações que compartilham os mesmos valores, pode ampliar o impacto e fornecer oportunidades para desenvolver soluções inovadoras. Ao trabalhar em conjunto, as empresas podem promover a economia circular de maneira mais eficaz e sustentável.

Trace parcerias e estratégias: um exemplo inspirador de parceria é a colaboração da Breton, marca brasileira de móveis de luxo, que lançou o Breton Circular, um programa de second hand destinado a impulsionar a economia circular no mercado de alto padrão. A iniciativa surgiu da percepção da marca sobre a crescente tendência de troca de móveis em perfeito estado por novos, seja por mudança de casa, crescimento da família ou outras razões. O Breton Circular permite que móveis seminovos sejam vendidos a preços mais acessíveis em sua plataforma online, democratizando a marca para outros consumidores.

Desafios e soluções na transição 

Implementar a economia circular pode parecer complicado no início, mas, na verdade, seguindo os princípios básicos que já discutimos, dá para se sair bem. 

Só que, como em qualquer jornada, existem alguns obstáculos pelo caminho:

Resistência à mudança: algumas empresas relutam em abandonar métodos antigos, atrasando a transição para a economia circular e limita seus benefícios.

Custos iniciais elevados: investimentos significativos são necessários para adaptar processos e infraestrutura, o que pode ser um obstáculo para empresas menores.

Falta de infraestrutura adequada: a ausência de instalações e sistemas adequados dificulta a coleta e reciclagem de materiais, resultando em desperdício e poluição contínuos.

Confira possíveis soluções:

Políticas governamentais e incentivos: regulações e incentivos financeiros podem motivar empresas a adotar práticas circulares, incentivando investimentos.

Parcerias interindustriais: colaborações entre setores facilitam a troca de recursos e conhecimentos, impulsionando a transição para modelos circulares.

Inovação e pesquisa: investimentos em tecnologias e processos inovadores reduzem custos e aumentam a eficiência da economia circular.

Empresas que já implementaram

Trazendo sabor e sustentabilidade:

Uma startup austríaca chamada Kern Tec está inovando ao aproveitar o caroço de frutas para criar valor no campo. 

Com foco na economia circular, a empresa arrecadou US$ 12,8 milhões em investimentos para resolver o descarte de subprodutos gerados na produção de geleias, marmeladas, aguardente e sucos. 

Por meio de tecnologias patenteadas, a Kern Tec transforma os caroços em ingredientes para produtos lácteos e confeitaria à base de plantas, promovendo um sistema circular e sustentável. 

Com um mercado promissor, a startup visa expandir sua atuação e contribuir para a redução do desperdício alimentar, ao mesmo tempo, em que oferece soluções inovadoras para a indústria agrícola. 

Economia circular no cerrado brasileiro

Na região do Cerrado brasileiro, o etanol de milho está impulsionando a economia circular significativamente. Com a operação de 20 usinas de produção, e mais projetadas para o futuro, o país está testemunhando um avanço notável nessa indústria. 

Sob a liderança da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM), o setor está se destacando não apenas na produção de biocombustível, mas também na criação de empregos, agregando valor aos grãos e contribuindo para a infraestrutura local. 

O potencial desse modelo de negócio vai além das fronteiras nacionais, representando uma estratégia vital na transição energética e na descarbonização global. 

Com inovações como a captura e armazenamento de CO2 e a expansão da produção, o etanol de milho está emergindo como um protagonista na construção de um futuro mais sustentável.

Futuro da economia circular

Vamos finalizar nossa análise sobre economia circular explorando algumas tendências e inovações que estão moldando o futuro desse conceito. 

Esse modelo traz oportunidades estratégicas, como a estabilidade nos preços das matérias-primas e a melhoria da imagem corporativa. Uma dessas tendências é a economia circular digital, que envolve o uso de tecnologias digitais para otimizar processos, rastrear recursos e facilitar transações. 

Isso inclui o uso de blockchain para garantir a rastreabilidade e autenticidade dos materiais, bem como plataformas online para facilitar a troca e reutilização de produtos. 

Além disso, estão surgindo novos modelos de negócios circulares, que visam maximizar o valor dos recursos ao longo do ciclo de vida do produto, adotando estratégias como a venda de produtos como serviço e o design para desmontagem. 

Em termos de perspectivas de longo prazo, observamos uma crescente integração global da economia circular, impulsionada pela conscientização crescente sobre os desafios ambientais e pela busca por soluções sustentáveis a nível global. 

Essa integração está levando a uma maior colaboração entre empresas, governos e organizações internacionais, além de uma convergência de políticas e regulamentações em todo o mundo.

Considerações finais 

Conforme seguimos em direção ao futuro, é fundamental continuarmos explorando as tendências e inovações que podem impulsionar ainda mais a economia circular, aquela em que tudo é reaproveitado ao máximo.

Mas sabe o que é mais legal? Essa mudança não é só sobre cuidar do meio ambiente, é também sobre viabilidade econômica e social. 

Ao adotar essas práticas, as empresas não apenas reduzem seu impacto ambiental, mas também criam novas oportunidades de negócios, impulsionando o desenvolvimento econômico e contribuindo para um futuro mais sustentável e resiliente para todos nós.